Desinformação 'pode comprometer todos os nossos esforços', diz enviado especial da COP30
25/10/2025
(Foto: Reprodução) Por que a desinformação também é um perigo para o clima?
Pela primeira vez, a conferência do clima da ONU terá um enviado especial para a integridade da informação. Frederico Assis, ex-assessor do Celso Amorim, tem a missão de combater o negacionismo e a desinformação.
➡️Os enviados especiais são selecionados pela presidência da conferência e têm a função de engajar diferentes setores da sociedade nas discussões relacionadas ao encontro.
Em entrevista ao g1, Assis destacou os riscos da desinformação para o sucesso da conferência.
"A desinformação é destrutiva e pode comprometer todos os nossos esforços na COP. Esses conteúdos mentirosos são promovidos, seja por interesses políticos, seja econômicos, ideológicos e são impulsionados por algoritmos obscuros", disse Frederico.
Para tentar enfrentar o que chamou de “algoritmos obscuros”, Assis defende a importância de sensibilizar as big techs, que estão no centro dessa discussão. Enquanto isso não acontecer, o combate à desinformação, segundo ele, será apenas uma “redução de danos”.
"Eu não acredito que vá haver nenhum avanço significativo se não houver mudanças estruturais nessa área".
🚨 Entenda: muitos criadores de fake news pagam para impulsionar suas publicações falsas em plataformas como o Facebook e Instagram. E a Meta, dona dessas redes, é criticada por não atuar com mais firmeza na moderação desses conteúdos.
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Assis diz observar um aumento mês a mês no volume de desinformação sobre o tema à medida que a conferência se aproxima. Ele reforça a importância da informação correta e da verdade para a construção de um futuro sustentável.
"Sem verdade não tem confiança, sem confiança não tem ação coletiva e sem ação coletiva não tem a possibilidade de construção de um futuro que seja justo e sustentável”.
O enviado especial também aponta que o discurso negacionista evoluiu: como está cada vez mais difícil negar as mudanças climáticas, as mentiras agora se voltam contra as soluções.
🌀O poder da dúvida
Ao gerar dúvidas, a desinformação ofusca um consenso já estabelecido entre os cientistas: de que o aquecimento global é causado principalmente pela ação humana — e que, se agirmos agora, ainda dá tempo de reduzir os impactos.
➡️ Vale lembrar como a tática da dúvida foi usada pela indústria do tabaco. Nos anos 1950, estudos começaram a apontar a ligação entre o cigarro e o câncer. Os principais executivos do setor, então, criaram o Comitê de Pesquisa da Indústria do Tabaco para semear dúvidas sobre as evidências científicas. A estratégia funcionou e atrasou por décadas a adoção de políticas públicas de proteção à saúde.
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Getty Images
Quando a população fica em dúvida, decisões políticas e econômicas podem atrasar.
A ONG SOS Mata Atlântica afirma que a integridade da informação é essencial para a mobilização climática.
" Ao semear dúvidas, estimular o ceticismo e distorcer o consenso científico sobre causas, impactos e soluções, essas práticas enfraquecem o senso de urgência e adiam decisões fundamentais".
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